terça-feira, 21 de outubro de 2008
'' Caixa de Pandora ''
Arde este silêncio farto da espera
esquecido na mágoa da solidão
ardem os campos semeados pelo ódio
consumidos assim na escuridão
E esta distância que nos dói cá dentro
que nos faz perder o sentido no futuro
cada instante olvidado no teu olhar
e o amanhã que esbate sempre num muro
Abriste a caixa de pandora
e agora tudo pode acontecer
o mundo à volta não é o mesmo
tens de jogar alto para nos vencer
De que serve ter o universo inteiro
se o teu calor não alimenta a minha sombra
de que serve a raiva que nos consome
se é sempre o coração que tomba
Cada momento infinito nas tuas mãos
é um mundo que se abre no meu regaço
cada palavra que guardo de ti
hei-de devolvê-la num abraço
Abriste a caixa de pandora
e agora tudo pode acontecer
o mundo à volta não é o mesmo
tens de jogar alto para nos vencer
( 28.11.2008 )
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
'' O dia que nunca chega ''
As palavras ecoam no fundo da mente
perseguem este sonho difícil de agarrar
como o sol que se põe do outro lado da montanha
sempre fugidio mas disposto a regressar
As bombas ainda caem num país distante
crianças são roubadas à inocente infância
democracia, podre, repleta de mentiras
e o mundo sobrevivendo em pura ânsia
E aquele dia que nunca chega...
tormento vicioso de quem comanda
marionetas de papel, rasgadas, sujas
e o mundo assim não avança
A fome que mata o ''terceiro mundo''
o perdão recusado a quem merece viver
o tempo não apaga a cruel memória
de quem atravessa a vida sempre a sofrer
A procura inútil de um lugar melhor
um muro imenso que nos cerca o pensamento
uma bala fura a carne e o corpo cai no chão
sempre a mesma história, ecoada em lamento
E aquele dia que nunca chega...
tormento vicioso de quem comanda
marionetas de papel, rasgadas, sujas
e o mundo assim nunca avança
( 03.09.2008 )
terça-feira, 26 de agosto de 2008
'' Nada é para sempre ''
Sempre... nada é para sempre
e o tempo não faz esquecer
todas as mágoas que te cercam
todos os tormentos que te derrubam
todo esse fogo onde queres arder
Memórias... vagas e sem fundo
sentimento de querer acreditar
tudo aquilo por que lutaste
tudo aquilo por que sofreste
nunca ninguém te fará calar
Não és prisioneiro de ninguém
a tua vida está na tua mão
não és prisioneiro de ninguém
este mundo não é uma ilusão
Vontade... tudo o que tens dentro de ti
lutar sempre por algo maior
esquece as ruínas do passado
esquece os sonhos recusados
e acredita que vais vencer a dor
Não és prisioneiro de ninguém...
( 26.08.2008 )
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
" Faz de conta "
Vem fazer de conta que o nosso mundo é um lugar melhor
que o tempo fez esquecer as mágoas do passado
vem fazer de conta que este céu é o nosso limite
e tudo o que trazes dentro de ti é um desejo adiado
Sente a brisa que o vento vai roubar ao mar
sente o amanhã cada vez mais distante
faz de conta que o fim está ao dobrar a esquina
o resto de tudo o que é menos importante
No cimo da montanha, á beira do abismo redundante
o mundo parece fugir das mãos, assim tão sofrido
e não há muito mais por fazer...
e não há muito mais por fazer...
( 14.08.2008 )
segunda-feira, 7 de julho de 2008
'' Água turva ''
Escondo-me no escuro e tudo parece tão calmo
como esta paz que me sustenta os sentidos
guardo comigo segredos ainda por revelar
na estranha incerteza de um dia te reencontrar
Entrego-me nesta longa espera de um mundo melhor
de um lugar onde sei que posso vencer a tua luz
cada passo que dou, cada palavra que deixo fugir
é toda esta vontade que tenho para te sentir
Estou a cair, nem sei para onde...
vem apanhar-me na curva
deixa-me sentir os teus braços
salva-me desta água turva
Hei-de vencer esta força que me tenta empurrar
o meu peito quer expulsar esta dor que me cerca
o passado que um dia recusei tentar mudar
é o futuro que hoje sem rodeios insisto em agarrar
Estou a cair, nem sei para onde...
vem apanhar-me na curva
deixa-me sentir os teus braços
salva-me desta água turva
(07.07.2008 )
terça-feira, 24 de junho de 2008
'' Ódio ''
Nasci entre a vontade e a indiferença dos homens
perdido no limbo redundante da civilização
cresci ao sabor do tempo que me guia os sentidos
sempre conduzido à eterna e crua solidão
Não tenho sentimentos, nem sei o que é gostar
tenho o rosto marcado pela raiva e desconforto
não tenho um sítio onde me esconder do mundo
o meu trilho é submisso e sem qualquer porto
O meu nome é ódio
nasci para destruir
A minha sina nunca vai ter um fim
enquanto houver alguém viciando a liberdade
serei dono e senhor de todos os homens
serei o sonho e o pesadelo sem idade
O meu nome é ódio
morrerei a destruir
( 24.06.2008 )
segunda-feira, 23 de junho de 2008
'' Sempre a perder ''
No fundo da rua, onde se esconde o perigo
avanço entre os escombros desta selva de pedra
arriscando a vida sem qualquer razão
perdendo o medo de me afundar na escuridão
Esgoto o tempo em pequenos pormenores
arrastanto o espaço que me envolve em sonhos
hei-de um dia esquecer-me de mim
em qualquer lugar nenhum, assim
Deixando-me ficar, sempre a perder
Quero acordar um dia sem destino nenhum
sentir a melancolia das horas a passarem
crescer entre os vícios que cercam o meu mundo
voltar para cima depois de bater no fundo
Quero sentir esses muros a ceder para sempre
rebentar com as fronteiras que me prendem
passo a passo vou vingando todas as mágoas
fechar os olhos e mergulhar no frio das águas
Sem me deixar ficar, sempre a perder
( 23.06.08 )
terça-feira, 27 de maio de 2008
'' Há-de haver tempo...''
Hei-de acordar um dia
sem esta teimosa sensação
de estar sempre a perder
Sempre que te tenho perto de mim
o meu mundo quebra-se em pedaços
morto para te pertencer
Há-de haver tempo para te dizer
que o espaço que temos entre nós
espera ansioso para nos vencer
Sonho acordado com o teu beijo
com o doce brilho do teu olhar
que me alumia o anoitecer
Faz-me acreditar no impossível
que esta história pode ter futuro
não me deixes aqui a perder
Há-de haver tempo para te dizer
que o espaço que temos entre nós
espera ansioso para nos vencer
Quero fazer parte de ti
penetrar no teu sonho mais profundo
e nele deixar-me adormecer
(27.05.2008 )
quarta-feira, 21 de maio de 2008
'' Voar ''
Deixa-me falar-te do tempo...
das horas que nos fogem sem sentido
deixa-me levar-te a ver a lua de perto
e descobrir o que nela haverá escondido
Por entre a magia das palavras
bem na sombra brilhante do teu olhar
há um espaço que nos espera para ser tomado
há sempre um mundo novo por desvendar
Vem daí, não te deixes ficar
inventarei asas para podermos voar
Segura a minha mão que te procura
e abre-me assim o teu suave regaço
quebra-se o tempo entre os nossos passos
e o céu envolve a lua num longo abraço
Vem daí, não te deixes ficar
inventarei asas para podermos voar
( 21.05.2008 )
terça-feira, 20 de maio de 2008
'' Aquele sonho...''
Neste fim de tarde vagaroso
debaixo da chuva miudinha e incansável
num rodopio de cores cinzentas
eu parto na busca do sonho infindável
Aquele sonho que me consome por dentro
brilhante como o fogo de uma fogueira
que faz o mundo parecer tão pequeno
capaz de me perseguir a vida inteira
Por vezes nem sei onde me encontrar
vagueio pela cidade sem qualquer sentido
é tão intensa esta vontade de te procurar
nenhum tempo contigo é tempo perdido
O espaço que me separa do teu fundo
é tão longo como o leito deste rio imenso
tão vazio como o volume de uma nuvem
mas ao mesmo tempo, estranhamente tão intenso
Deixa-me entrar no teu jogo e arriscar
quero ver-te a dançar até a noite cair
só quero fazer parte desses teus momentos
mergulhar no teu fundo, e nunca mais de lá sair
Por vezes nem sei onde me encontrar
vagueio pela cidade sem qualquer sentido
é tão intensa esta vontade de te procurar
nenhum tempo contigo é tempo perdido
( 20.05.2008 )
domingo, 18 de maio de 2008
'' Enquanto o mundo adormece devagar...''
Vivo no desejo de agarrar a memória de ti
nesta estranha inércia que me afasta do teu fundo
sobrevivo à vertigem das palavras que trocámos
sempre na ânsia de redesenhar o nosso mundo
Eu podia mostrar-te o lado errado das coisas
e embalar-te nas ondas cósmicas do espaço
desvendar o mistério mais profundo da civilização
e assim rever-te sempre em tudo o que faço
Mas a distância é bem maior que o pensamento
e pouco a pouco vai consumindo esta vontade
e em qualquer lugar nenhum, perdido do amanhã
continuarei a viver este imenso sonho sem idade
Enquanto o mundo adormece devagar...
( 18.05.2008 )
quarta-feira, 14 de maio de 2008
'' Para sempre... agora ''
E assim me perdi de ti
como o mar se perde do céu
como se o tempo não tivesse tempo para mudar
como se o espaço não fosse meu nem teu
Assim perdi o teu olhar profundo
cada palavra, cada gesto, cada momento
como se o amanhã deixasse de existir
como se a tua sombra se perdesse no vento
Não tenho medo do futuro
nem do sonho que vier
este desejo que trago dentro
é a vontade de um dia de vencer...
... para sempre, agora.
( 14.05.08 )
quarta-feira, 23 de abril de 2008
'' Suave murmúrio ''
Sombra de luz
sorriso no olhar
desejo contido
um beijo que ficou por dar
Suave murmúrio
que me atrai ao teu regaço
o sonho é tão doce
como o conforto do teu abraço
Palavras repetidas
sem pressa de falhar
vontade de vencer o jogo
e ver-te assim a brilhar
E como se fosse por magia
faço da tua noite o meu dia
Haja o que houver
sei sempre onde te encontrar
na calma deste rio, no rodopio da cidade
em qualquer lugar
Suave murmúrio...
que me faz adormecer no brilho do teu olhar
( 22.04.2008 )
segunda-feira, 21 de abril de 2008
'' Anjos marginais ''
Por entre ruas estreitas
pelos escombros fugidos
jogam a vida sem sentido
sobrevivem sonhos perdidos
Trazem no olhar aquela dor
e a alma cheia de desejo vazio
a angustia de suportar a solidão
levados pela corrente fria deste rio
Será sempre assim, o futuro a fugir da mão
e os anjos marginais afundam-se na escuridão
Violentados pelo sistema
nesta frágil democracia
refugiam-se apressadamente
em pequenas doses de pura magia
E o abismo aqui tão perto
fogo fátuo que arde por dentro
lágrimas de sangue embotam o rosto
e o mundo é consumido em lamento
Será sempre assim, o futuro a fugir da mão
e os anjos marginais afundam-se na escuridão
Estes anjos não têm asas
nem sabem o que é voar
são anjos nascidos da dor e solidão
já cansados de tanto lutar
Será sempre assim...
( 20.04.2008 )
quinta-feira, 3 de abril de 2008
'' Pertencer-te ''
Decididamente avanço entre o silêncio da penumbra
levado pelo desejo de te sentir tão perto
afogo esta mágoa que me bate cá dentro
procurando abrigo no calor do teu deserto
Este surdo lamento é sempre tão seco
como as horas que descrevem a tua ausência
saberei um dia chegar ao teu regaço
e acabar de vez com esta estranha demência
Dá-me um sinal de ti
deixa-me pertencer-te assim...
Deixa-me provar a suave magia do teu toque
saber sempre onde encontrar o teu fundo
deixa-me afundar o mundo no teu mar
mesmo que seja apenas por um segundo
Dá-me um sinal de ti
deixa-me pertencer-te assim...
( 03.04.2008 )
quarta-feira, 2 de abril de 2008
'' Remorso cor-de-rosa ''
Sei que o tempo nunca espera por nós
sei que o jogo fica sempre por vencer
e o destino que os outros falham
será aquele onde me irei perder
Sei que a nossa história já passou
sei que o mundo não parou para nos olhar
na imensa magia deste mar de céu
haverá sempre lugar para te encontrar
E o peso que este amor tem
não se pode perder assim
este remorso cor-de-rosa
tem de continuar até ao fim
Sempre que de leve fechares os olhos
e te esconderes adormecida no teu fundo
sabes que o sonho se esgota em ti
na procura de um novo mundo
E o tempo avança determinado
na ansia rebelde de tamanho desejo
procurando matar esta sede
na paz calma que é o teu beijo
E o peso que este amor tem
não se pode perder assim
este remorso cor-de-rosa
tem de continuar até ao fim
( 02.03.2008 )
sábado, 29 de março de 2008
'' Triste mundo adormecido ''
Quando o sol nasce no lado mais triste
e a montanha se curva ao céu distante
quando o espaço não cabe entre o tudo e o nada
os sonhos vão queimando no inferno de Dante
Quando a vontade do homem não chega
e o amanhã é cada vez mais incerto
quando as fronteiras se esgotam no tempo
então o fim estará sempre bem perto
... neste triste mundo adormecido
Quando o medo tomar conta de nós
e a esperança se perder do trilho
quando o ódio fôr a mais forte das apostas
e o desejo de vencer, vagabundo andarilho
Quando o dia se confundir na noite
quando a morte invejar o teu respirar
quando tudo o que se vê parece ilusão
então é o assombro que vem para te levar
... neste triste mundo adormecido
( 30.03.2008)
sexta-feira, 28 de março de 2008
'' Deserto de calma ''
Viver cercado pela vontade dos outros, sentir na pele o desconforto de um não, perder o sentido de um amanhã tão próximo, afundado num oceano de desilusão... Só quero ter forças para enfrentar esse mundo sem rédeas que me controlem o pensamento, quero apenas o direito de arriscar neste jogo e mergulhar de cabeça entre a angústia e o lamento... Passar o tempo suspenso numa falsa memória, gritar o silêncio que me preenche a alma ,saber que no fim a história recomeça de novo e a vida afunda-se neste abismo, deserto de calma ( 28.03.2008 )
quarta-feira, 26 de março de 2008
'' No teu respirar ''
Mato o tempo devagar
disperso no pensamento
sinto o corpo desistir
levado pela força do vento
E este chão que me ampara
e me protege do perigo
vem despertar-me os sentidos
é o meu porto de abrigo
E a noite vem de mansinho
aconchegar o meu lamento
trás aquela vontade tamanha
de vencer cada momento
Então tudo fica mais fácil
quando me fixo no teu olhar
esqueço o desencontro do mundo
e adormeço do teu respirar
(26.03.2008 )
segunda-feira, 24 de março de 2008
'' O que interessa? ''
No calor da noite que me cerca de assombro e murmúrio
sinto o sopro quente da fogueira que arde em mim
vislumbro ainda trémulo a beleza no teu rosto
e quedo-me assim envenenado no desejo de ti
Caminho no tormento de não sentir a tua sombra
e o pensamento perde-se nesse teu perfume inebriante
há tanto tempo que ocupas lugar na minha memória
és a causadora de uma vontade cada vez mais gigante
O que interessa o amanhã se não estás aqui?
o que interessa o que vier se não te tenho em mim?
Cada olhar hipnótico que libertas no horizonte
cada palavra consumida na severidade de um lamento
cada viagem sem rumo que provocas em mim
dá-me forças para te vencer em qualquer momento
O que interessa o amanhã se não estás aqui?
o que interessa o que vier se não te tenho em mim?
(25.03.2008 )
sábado, 22 de março de 2008
'' Nossos mundos ''
Lembro-me de ti, quieta à chuva
lembro-me do lamento e da distância
lembro-me do sonho que perdura
de todos os gestos sem importância
E esta longa estrada que separa os nossos mundos
Lembro-me do inverno triste e distante
de todas as palavras repetidas em vão
lembro-me do mais breve instante
de um olhar que preenchia esta solidão
E esta longa estrada que separa os nossos mundos
Lembro-me da vertigem do teu sabor
lembro-me de um desejo com retorno
o teu toque sempre ao meu dispor
e o teu fluído tão doce, tão morno
E esta longa estrada que separa os nossos mundos
Lembro-me da tua malícia e encanto
lembro-me do que ficou por inventar
lembro-me das noites vestidas de espanto
e dessa estranha vontade de amar
E esta longa estrada que separa os nossos mundos
( 22.03.2008 )
sexta-feira, 21 de março de 2008
'' Vertigem cor de laranja ''
Fim de tarde, dia cinzento
a marginal parece não ter fim
e o mar rebelde ali tão perto
de vez em quando fugido de mim
Mergulho cego nos néons da cidade
cortando o vento pelo caminho
numa vertigem cor de laranja
enfrento o perigo sempre sozinho
E o tempo vai passando sem nunca me apanhar
e o todo que perdi, um dia sei que vou encontrar
Entro bem fundo na noite
procurando um qualquer olhar
a razão pela qual o mundo
está sempre, sempre a falhar
É difícil conseguir adormecer
no ritmo arrastado da cidade
lá fora o motor ainda está quente
cheio de histórias sem idade
E o tempo vai passando sem nunca me apanhar
e o todo que perdi, um dia sei que vou encontrar
( 21.03.2008 )
domingo, 16 de março de 2008
'' 9.30 ''
São nove e trinta lá fora, e eu ainda nem acordei
mais um dia a rasgar esta história que provoquei
Tenho ainda o teu sabor e a espera que nunca me bateu
ainda sinto o teu cheiro sempre tão perto do meu
Vieste por mim incapaz de me esconder o teu céu
travámos uma luta intensa, ainda nem sei quem perdeu
Fui a fera que te apanhou, foste o desejo que veio a tentar
e eu fiz da voz e da guitarra as lágrimas do meu olhar
Saí enquanto dormias, afundei-me num mar de gente
perdendo-te aos poucos a cada momento ausente
Parei na beira do rio, procurei na água a tua imagem
as notas saem trocadas repetindo sempre a mesma viagem
Voltei para ficar em ti, mas logo foste embora
ficou marcado no teu rosto que passou a minha hora
Fui a fera que te apanhou, foste o desejo que veio a tentar
e eu fiz da voz e da guitarra as lágrimas do meu olhar
( 1997 )
sábado, 15 de março de 2008
'' Assombro redundante ''
A vida é um instante consentido
um lugar entre o todo e o nada
e num travo amargo de cigarro
sinto a dor de um desejo perdido
de um sonho que não agarro
de uma porta sempre fechada
Agora nem sei mais de mim
entre os escombros da madrugada
o tempo parece prender-me os passos
o amanhã vai ser sempre assim
mas eu hei-de apanhar os estilhaços
de outra noite mal passada
E num assombro redundante
esgoto a espera ao despertar
sinto o chão fugir-me dos pés
cada vez sempre mais distante
sei agora que chegou a minha vez
de vencer o sonho em qualquer lugar
( 15.03.2008 )
quinta-feira, 13 de março de 2008
'' Quando céu escurecer... ''
Quando o céu escurecer...
e as nuvens se juntarem em esforço
quando o mar se encher de lágrimas
e eu vislumbrar o teu esboço
Quando essa luz ténue se perder
e o tempo, vagabundo fugir-me da mão
sei que o sonho vai chegar ao fim
no caos indiferente deste turbilhão
Mas nunca é tarde demais...
para pedir ao céu que toque de leve o mar
e como se fosses uma vaga de pura magia
vens sempre pronta para me salvar
Quando o futuro parece distante
quando a dor se estende na solidão
quando a ferida cresce por dentro
quando a resposta é sempre um não
Mesmo assim... nunca é tarde demais
para pedir ao céu que toque de leve o mar
e como se fosses uma vaga de pura magia
vens sempre pronta para me salvar
( 15.03.2008 )
terça-feira, 11 de março de 2008
'' A ponte ''
Ponte, desejo de atravessar a solidão
instante sóbrio que se perde na memória
o fim injustificado de qualquer história
uma gota de água aprisionada na mão
O tempo rasga a viagem em pedaços
e o medo vem tomar o lugar desta paz
que só a força rebelde do rio satisfaz
em poucas palavras mas em mil abraços
Duas margens unidas pelo calor da estrada
amantes separados por sonhos distantes
lutando pelo amanhã como guerrreiros gigantes
num mundo quase imperfeito, refeito do nada
( 12.03.2008 )
domingo, 9 de março de 2008
'' Perto do fim ''
Tenho os traços do teu rosto marcados na minha mão
e o desejo sempre presente de mil noites rasgadas no verão
tenho a sombra do tempo que esconde o teu mundo fechado
e estas palavras guardadas num sonho farto e derrotado
Esqueci-me do nome, desse lugar onde te perdi
a mágoa que me aperta o peito não fui eu que escolhi
é tão difícil perder a vontade de agarrar esse teu sorrir
e fingir não perceber o jeito felino que tens de estar sempre a fugir
E sempre que me perder neste mar de vida vazia
sei que um dia tive por inteiro tudo o que queria
e este pedaço de tempo rompeu o silêncio para me dizer
que no princípio de tudo foi sempre o verbo querer
E este medo de arriscar que toma conta de mim
é uma ponte enfraquecida no espaço perto do fim
( 11.03.2008 )
sexta-feira, 7 de março de 2008
'' De mãos vazias... assim ''
Trago o sonho de um futuro
quase preso entre os dedos
e a esperança que o tempo
me revele os teus segredos
Esta sombra vem embalar-me
e ao adormecer sei que chego a ti
de mãos vazias, assim...
Quantas noites tenho de vencer
qual a distância a percorrer
que palavras tenho de dizer
para fazer parte do teu amanhecer?
Este desejo que não me cabe no peito
procura a doce calma do teu fundo
e sempre que o céu tocar o mar
quero perder-me assim no teu mundo
Esta sombra vem embalar-me
e ao adormecer sei que chego a ti
de mãos vazias, assim...
( 07.03.2008 )
quinta-feira, 6 de março de 2008
'' Alguém ''
Alguém te partiu o coração
alguém te levou a alma
sentes-te ferida por dentro
essa dor farta que não acalma
Precisas de um momento para ti
e procurar a melhor maneira
o tempo vai apagar o remorso
apostado numa vida inteira
Sabes que ficarei aqui
sempre na espera de ti
enquanto respirar
esperarei o teu sinal assim
Não me feches a tua porta
dá-me a força para te mudar
sei que o inverno tem um fim
mas eu ficarei para te amar
Sempre que estiveres só
e o mundo pareça louco
dá-me a tua mão aberta
e eu mudar-te-ei pouco a pouco
( 06.03.2008 )
quarta-feira, 5 de março de 2008
'' Querer e recusar ''
Neste quarto vazio
tarde de chuva, dia cinzento
há uma canção de querer e recusar
há uma história para contar
a cada momento
A fantasia invade este lugar
e queda-se no amor a soluçar
o espaço move-se no tempo
e a força rebelde do vento
traz a vontade de desejar
E eu sinto a mudança
a sedução de um olhar a queimar
o sorriso no rosto a desaparecer
as formas de um corpo de prazer
num sonho de fantasmas a dançar
... uma canção de querer e recusar
( 27.09.1996 )
'' Continuar ''
Consigo ver nos teus olhos
esse imenso mar de solidão
procuras algo difícil de encontrar
e ninguém te quer dar a mão
Eu sei que não é fácil continuar
mas o tempo ajuda a ferida a sarar
Sei de cor cada pedaço do teu mundo
sei ao pormenor a sombra do teu lamento
e assim, sempre que te perderes
sei que te vou achar em cada momento
Eu sei que não é fácil continuar
mas o tempo ajuda a ferida a sarar
A espera é um lugar adormecido
sempre perto do que está mais distante
e essa mágoa que trazes no olhar
queima como o inferno de Dante
Eu sei que não é fácil continuar
mas o tempo ajuda a ferida a sarar
( 05.03.2008 )
segunda-feira, 3 de março de 2008
'' Um lugar secreto ''
Ela vai deixar-te entrar se vieres ao anoitecer
deixa-te provar da sua boca se fizeres o que ela quer
Se tu pagares o preço ela deixa-te entrar bem fundo
naquele lugar secreto que esconde do resto do mundo
Ela deixa-te entrar assim, e leva-te pela escuridão
ela dá-te parte da sua vida e abre-te o seu coração
E tu vens de tão longe
até quando queres perder?
aquele lugar que não recordas
mas não consegues esquecer
Queres ser o seu herói, tens que dar tudo o que tens
e ela abre-te a porta, ela não quer mais ninguém
Ela olha-te e sorri, e a sua magia vem dizer
''há um lugar secreto onde tu me podes vencer''
E tu vens de tão longe
até quando queres perder?
aquele lugar que não recordas
mas não consegues esquecer
( Adaptação do original Secret Garden de Bruce Springsteen )
( 22.06.1997 )
domingo, 2 de março de 2008
'' Uma bala perdida ''
Como eu, tu serás capaz de enfrentar o medo
de romper o cerco que o perigo te tráz
sem ter tempo para pensar nem guardar segredo
do mundo que ficou perdido lá atrás
Combater, descomandado por uma força maior
destruir uma nação por ter ideia diferente
sentir para sempre cá dentro aquela dor
impedir de crescer quem se julga que não é gente
E uma bala perdida encontra o teu coração
a morte ocupa agora o lugar na tua solidão
Este sangue que escorre vem manchar a bandeira
o pano da indiferença que sustenta a paixão pela guerra
fui soldado como tu lançado assim à fogueira
programado em cativeiro para acabar com a Terra
E uma bala perdida encontrou o meu coração
a morte ocupa agora o lugar na minha solidão
( 03.03.2008 )
'' Instante infinito ''
Silêncio... amargo, confuso
momento... angustiado, sentido
desejo... receio do vazio
a espera de mais um tempo perdido
Noite... escura, pesada
pedaço de alma fugida
vontade de saltar o muro
numa luta sempre vencida
O espaço torna-se um instante infinito
a força da palavra, crua e nua
sempre pronta para te derrubar
e a vida lentamente continua
Sonho... suave lamento
futuro... guardado no fundo
ontem, presente do amanhã
desperto... estranho, profundo
Acordar... sopro leve da manhã
lugar incerto cheio de nostalgia
reencontrar o mundo de novo
numa breve e doce melancolia
O espaço torna-se um instante infinito...
( 02.03.2008 )
'' Dança de sonhos ''
Diz-me onde se foi esconder
a magia que brota do teu olhar
diz-me o porquê deste sonho
ter ficado assim, por sonhar
Se eu pudesse mudar o mundo
como num conto de fadas
o tempo parava neste lugar
só para descubrir onde estavas
Como fogo fátuo e selvagem
que enche este mar de dor
diz-me onde se foi perder
o teu mais secreto sabor
Ficarei assim, sempre na espera
de ver a tua sombra brilhar
numa estranha dança de sonhos
na ânsia louca de te beijar
( 02.03.2008 )
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
'' Valsa de cores ''
Aqui nesta cidade encantada
onde o rio chega de mansinho
e as pontes abrem caminho
Neste lugar preso no tempo
de tantas histórias por sonhar
e uma torre que toca o luar
Perco-me assim sem perceber
embalado nesta valsa de cores
e numa vontade tamanha
de levar desta cidade
todos os seus sabores
Corropio de fantasmas
atravessam-me o olhar
fazendo-me acreditar
O mundo não é só o que se vê
este lugar existe em mim
e existe bem longe daqui
Perco-me assim sem perceber
embalado nesta valsa de cores
e numa vontade tamanha
de levar desta cidade
todos os seus sabores
(29.02.2008)
'' Poema ferido ''
Um pedaço de céu
roubado na memória
velho, estranho sentido
neste lugar esquecido
bem longe da glória
No ritmo do tempo
marcado pela incerteza
de um sonho esbatido
sempre comprometido
fugido da tristeza
Como poema ferido
sem verso para rimar
sereno, profundo
do tamanho do mundo
e com a força do mar
Um pequeno nada
deixado fora de tudo
atravessando o espaço
no conforto de um abraço
num grito sempre mudo
( 29.02.2008)
'' Anjos & Demónios ''
Há uma vela acesa no mundo esta noite
por outra criança que desapareceu
mais um coração quebrado
outra vida privada de ver o céu
E há um milhão de lágrimas
que se afundam neste mar de solidão
é o desejo que se desbota
no cinzento deste chão
Por vezes espreito à janela
e o pensamento dispersa-se no ar
por vezes pergunto-me se existe
algo melhor que este lugar?
Diz-me para onde vão os anjos caídos?
não sei onde se escondem
mas continuam a cair
O paraíso é um lugar estranho
mas mesmo assim desejado
será que ouvem o seu lamento?
terá o mundo um futuro adiado?
E esta vela ainda persiste
em busca de uma razão
há-de um demónio vencer
o sonho que temos na mão?
Diz-me para onde vão os anjos caídos?
não sei onde se escondem
mas continuam a cair
E há um milhão de lágrimas
que vão escorrendo esta noite
por cada criança perdida
na imenss solidão da sua sorte
( 2007- Baseado numa canção dos Aerosmith )
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
'' Um beijo ''
No silêncio das sombras
de uma noite por inventar
na melodia de uma guitarra
o toque felino do teu olhar
Vieste na madrugada
encher-me o mundo de vida
trouxeste as palavras certas
e uma paz nunca perdida
Perde-te então comigo
no desvio dessa estrada
vagueio mudo no teu corpo
como uma história encantada
Por entre as nossas mãos
o respirar doce de um desejo
a dor deixa-se enfim vencer
no reencontro de um beijo
( 28.02 2008 )
'' A cada segundo ''
Numa noite vencida longe da cidade
procurei a lua numa urgência eterna
de repente esta névoa desceu o vale
empurrada por uma força tão pequena
Como se tivesse o segredo mais profundo
fiquei preso nesta cortina feita de vapor
enfrentando fantasmas num sonho vazio
tentando fugir do silêncio que é a dor
A cada segundo o tempo foge
a cada instante a vontade morre
No acto surdo de morder o feitiço
o fim está mesmo à beira do começo
tudo o que se tem é não ter nada a perder
e esses nadas têm sempre um preço
A cada segundo o tempo foge
a cada instante a vontade morre
( 28.02.2008 )
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
'' Quase ''
Quase cheguei a tocar o teu rosto
absorto neste mar de gente sem rumo
quase fiquei preso nos teus passos
sem forças para apagar este fogo sem fumo
Quase te roubei a sensação de um olhar
embriagado pelos néons descoloridos da cidade
quase me perdi nesse teu mundo perfeito
na espera de fazer parte da tua vontade
Quase senti o cheiro do teu perfume mais íntimo
mergulhado num turbilhão de ideias sem sentido
quase te falei as palavras mais acertadas
na ânsia felina de um desejo nunca consentido
Quase... quase te pintei na tela da minha vida...
( 26.02.2008 )
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
'' Sede canibal ''
Ahhh!... mais um dia que nasceu...
e eu acordo sobressaltado pela penumbra da manhã clara
sinto no corpo a ressaca de mais uma noite mal digerida
... é tão estranho o meu tormento, e quando tento...
quando tento lembrar-me da madrugada anterior, e não consigo!...
tenho a garganta ressequida pelo vómito verde cru
pareço ter as entranhas dilaceradas por lâminas de dois gumes...
A minha vontade é isolar-me do mundo, mas em vez disso...
opto por afundar-me num mar de sombras que colonizam as ruas
as ruas escombrosas da cidade de cimento frio e nu!...
... tenho sede, nem sei de quê!?...
e o dia avança sedento, ansioso para ver a noite chegar...
e espreitá-la num esgar de desejos infindáveis
De repente... avisto essa silhueta de mulher que me provoca um nó no estômago
sigo-a confiante no seu passear vagaroso até uma ruela deserta e sombria
já a noite vai caindo, e eu interpelo-a incapaz de esconder este nervoso miúdinho...
e num avolumar de sensações, afogo a lâmina gelada no fígado...
e aguardo impacientemente pelo seu último sopro de vida, vazia...
... é tão quente o sangue que jorra do seu corpo despojado do ser!...
Ahhh!... é tão excitante poder devorar cada pedaço de mulher
aos poucos vou matando esta imensa e voraz sede de sangue e carne quente
estou a arder de jubilo!...
Já de barriga cheia, encaminho-me em passos arrastados para a toca
a noite está tenebrosamente fria e escura...
aqui e ali é insistentemente iluminada por néons que resistem, teimosos
colorindo o que não tem cor...
sinto o meu corpo a latejar de tanto reboliço
foi tão reconfortante matar a sede!...
( 2006 )
'' No meu sonho ''
Passei por ti a fugir
e levei comigo esse teu cheiro
empurrado por uma força imensa
quis ver o teu sorrir primeiro
Sempre que te escondes
o meu dia fica triste e cinzento
quero que a sombra da tua voz
cale este meu lamento
Hei-de tocar o teu rosto
suavemente com o meu olhar
e dizer-te ao ouvido que o tempo
espera-nos para avançar
E assim, vives no meu sonho...
Lá do fundo dessa rua
vens decidida enfrentar o mundo
quero ficar do teu lado
desde o primeiro segundo
Enfim tenho a tua mão na minha
o teu olhar reflectido no meu
as bocas tocam-se num grito surdo
debaixo da magia deste céu
Hei-de tocar o teu rosto
suavemente com o meu olhar
e dizer-te ao ouvido que o tempo
ainda nos espera para avançar
E assim, vives no meu sonho...
( 25.02.2008 )
'' O meu lugar ''
Há um novo mundo dentro de mim
que talvez nunca saberei encontrar
há um sentido que explica a razão da vida
mas tem segredos ainda por revelar
Esta vontade que me empurra daqui
e leva-me ao abismo mais distante
mostra-me o lado bom da coragem
no momento mais importante
Não sei qual a cor da minha alma
qual o peso morto da minha essência
sei que o universo é o meu lugar preferido
e nele busco o sentido da minha existência
A dor que trago guardada no fundo
ajuda-me a enfrentar o medo de arriscar
a outra margem deste imenso rio
imponente, guarda o meu lugar
( 25.02.2008 )
domingo, 24 de fevereiro de 2008
'' Sono de fantasmas ''
Decidida a noite chega a este lugar
em passos largos de dança
pintando o espaço de negro
pela mão de uma criança
Néons ofuscam as ruas desertas
o frio vem ao dobrar a esquina
a lágrima lenta começa a cair
tão frágil, tão pequenina
Um sono cheio de fantasmas
sob um tecto de céu estrelado
sobrevivendo de barriga vazia
abandonada pela cegueira do estado
O estranho medo de acordar
e sentir um futuro recusado
o amanhã será sempre igual
neste pobre corpo refugiado
O tempo não apaga o presente
a mágoa é fogo farto de queimar
e essa criança confinada em solidão
procura uma mão aberta para segurar
( 24.02.2008 )
sábado, 23 de fevereiro de 2008
'' Sombra de luz ''
Uma sombra de luz
num lugar distante
a magia de um olhar
numa noite cintilante
Um sono que acordou
e descobriu o futuro
a força que o amor tem
no desejo mais impuro
Uma centelha de fogo
que arde dentro do peito
segurar o amanhã
de qualquer jeito
Um abraço na partida
uma lágrima de saudade
será sempre assim
o tempo não tem idade
...será sempre assim
o tempo não tem idade
( 23.02.2008 )
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
'' Sei que quero voltar ''
Um dia tudo se perde
e não vais perceber porquê
a espera que se esgota
o tempo espremido gota a gota
como a primeira vez
As palavras são mudas
como a sombra de um vazio
a memória dessa cidade
guardada para a eternidade
nas margens de um rio
Ainda recordo esse sorrir
a vontade de abraçar o mundo
fechar os olhos e tocar o céu
reaver tudo o que se perdeu
apenas num mero segundo
Estará ainda a porta aberta?
desejo de sentir o futuro
resgatá-lo de qualquer jeito
esquecer o passado imperfeito
e derrubar esse muro
Sei que quero voltar...
( 22.02.2008 )
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
'' Memória de ti ''
A chuva cai no fim de tarde cinzento
mais um cigarro para sorver o tempo
guardo ainda a tua voz em mim
neste estranho e doce lamento
Esta memória de ti...
... que insiste em ficar
sempre na minha sombra
o brilho do teu olhar
O céu chora o dia inteiro para a cidade
tão cedo sei que não vai parar
a tua imagem conduz os meus passos
e leva-me assim, bem devagar
Esta memória de ti...
... que insiste em ficar
sempre na minha sombra
o brilho do teu olhar
Quando a noite chega enfim
e a chuva trémula pára de cair
já não sinto em mim a tua voz
já não tenho vontade de fugir
Esta memória de ti...
(24.02.2008 )
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
'' Sem nome ''
Adormeço outra noite numa rua gelada
desaparecendo no meio desse nevoeiro
já nem me lembro do meu nome
não reconheço qual o meu paradeiro
As pessoas passam aceleradas e cegas
numa dança de sombras vazias
e eu sonho o futuro afogado em alcoól
sinto as mãos tremerem enrugadas e frias
Sei que pertenço a lugar nenhum
longe desta falsa democracia
já nem o sol brilha para mim
a minha vida é uma farsa consentida
Sobrevivo nos escombros desta cidade
perdido numa memória de liberdade
o tempo vai consumindo a minha alma
e o meu corpo já nem tem idade
Por uma vez que seja, dá-me a tua mão
ou apenas um pequeno sorriso então
empresta-me a amizade por um dia
trás ao meu mundo um pouco de alegria
Não ignores que existo ao pé de ti
deixa-me pertencer a esta sociedade
deixa-me ser um número e um nome
deixa-me agarrar tamanha vontade
( 20.02.2008 )
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
''Poema em folha branca''
Há uma folha branca, nua de poemas
que trago junto ao meu peito apertado
como um palhaço pobre num palco vazio
não sei qual o verso mais acertado
Há um mundo de cores por descobrir
velhos segredos ainda por desvendar
mas este vazio é um poço sem fundo
que teimosamente insiste em continuar
Tenho a vida suspensa na palma da mão
e a certeza de um pedaço roubado ao futuro
as palavras lutam para se libertarem
trazem a magia da luz ao medo do escuro
E esta folha que um dia foi branca de cal
vaidosa, exprime-se num devaneio colorido
já tenho forças para sorrir ao céu brilhante
esquecer-me de quanto estive ferido
( 15.02.2008 )
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